A governança econômica das redes digitais: para uma análise dos mercados e da concorrência da Internet e seus impactos sobre os direitos dos usuários

           A pesquisa tem como objetivo analisar as dinâmicas de governança econômica das redes digitais e seus impactos sobre direitos dos usuários de países de diferentes continentes por meio de mapeamento e avaliação das estruturas de mercados relevantes, estratégias concorrenciais dos principais competidores e iniciativas de regulação econômica em diferentes países e blocos regionais. Parte do projeto consiste no desenvolvimento da discussão sobre a Economia Política da Internet, na perspectiva da Economia Política da Comunicação. Partindo do reconhecimento do caráter transnacional das redes digitais, a pesquisa propõe um recorte dúplice ao selecionar um conjunto de países de diferentes continentes e construir também uma avaliação da situação brasileira. Nesse sentido, são analisados seguintes casos: Brasil, União Europeia, Argentina, Estados Unidos e China. Assim, buscamos compreender os cenários particulares e a articulação entre eles, considerando o Brasil e a Argentina como exemplos da inserção da América Latina na economia digital; o país em que se originam as principais corporações do setor, os Estados Unidos; e a China, que emerge como sua concorrente principal. O projeto também aborda a perspectiva da União Europeia, onde têm sido formuladas ações no plano da governança mais atentas a questões como o direito à proteção de dados pessoais e à fixação de medidas antitruste.

           O universo das redes digitais é decomposto em dois grandes grupos: os provedores de conexão à Internet e os provedores de aplicações e conteúdos, tomados em dimensões próprias devido às especificidades de cada segmento de mercado. A análise da governança econômica dá-se por meio de cinco eixos: 1) Ambiente político-institucional: formado pelos arcabouços normativos (como leis, decretos e normas), órgãos públicos e autoridades regulatórias concorrenciais e com incidência no setor específico e a atuação dessas instituições sobre esses mercados; 2) Trajetórias tecnológicas das soluções técnicas do paradigma tecnológico das redes digitais que incidem sobre a estrutura de mercado e dinâmicas concorrenciais; 3) Estruturas de mercado: compreendidas como a manifestação da concorrência em um dado setor, incluindo a quantidade e a participação de cada agente nas atividades que compõem esta área, abarcando as barreiras à entrada (econômico-produtivas e político-institucionais); 4) Estratégias empresariais: caracterizadas pelas condutas dos agentes de um dado mercado para obter melhores posicionamentos na disputa no mercado (incluindo as práticas competitivas e anticompetitivas); 5) Os modos de inserção dos países nas cadeias globais de valor e nos processos globais de governança econômica e político-institucional. A partir do quadro geral, serão analisadas e propostas medidas de governança econômica para a garantia de direitos no Brasil sob a ótica do decálogo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.Br) e direitos previstos na legislação vigente.

           O estudo se justifica pela centralidade das redes digitais nas sociedades contemporâneas e pelos impactos da concentração nos mercados relacionados a elas, fenômeno que mobiliza atenções da esfera concorrencial às eleições, passando pelas preocupações sobre concentração de poder e impactos políticos, cujo um dos exemplos é o problema da desinformação. A Internet ascende tanto como segmento econômico relevante em si quanto mediador de mudanças no conjunto da economia. O poder nos mercados digitais, assim, tem impactos não somente sobre estes, mas sobre crescentes esferas da vida social, razão pela qual a concentração emerge como preocupação disseminada. Autoridades regulatórias vêm abrindo investigações contra gigantes do setor, como Google, Facebook, Amazon e Apple. Acadêmicos, organismos internacionais, autoridades nacionais e entidades da sociedade civil vêm se debruçando sobre o tema com vistas a atualizar o instrumental antitruste para as novas dinâmicas que têm sido articuladas pelas chamadas plataformas digitais. É nessa perspectiva em que este projeto se insere.

           O projeto foi contemplado em edital fruto do Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica entre Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTIC) e Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) - Projeto de Pesquisa Temático - Chamada de Propostas (2021). Sediado na Universidade Federal de Sergipe (UFS), conta com a participação de pesquisadores e pesquisadoras de diferentes instituições.

Pesquisadores

César Bolaño

Pesquisador Responsável

Murilo Ramos

Pesquisador Principal

Alain Herscovic

Pesquisador Principal

Verlane Aragão

Pesquisadora Associada

Helena Souza

Pesquisadora Associada

Ruy Sardinha

Pesquisador Associado

Daniela Monjé

Pesquisador Associado

Helena Martins

Pesquisadora Pós-Doc

Danilo Oliveira

Pesquisador em Treinamento Técnico